Bettencourt chama "maçã podre" a Moutinho
Bettencourt referiu que "houve zero propostas a zero euros", excepto a do FC Porto, para a saída do jogador, e por isso tentou convencer Moutinho a esperar.
Segundo o presidente, o antigo "capitão" leonino, recusou-se a treinar, todos os dias ameaçava que não iria para a Academia de Alcochete e manifestava intenção de falar com a comunicação social.
"Como atleta de alto rendimento teve um bom comportamento, enquanto homem não nos deixa saudades", afirmou o presidente, acrescentando: "Uma maçã podre contaminará o ambiente".
O médio, formado nas escolas do Sporting, transferiu-se para o FC Porto, num negócio que envolveu 11 milhões de euros e ainda o jogador Nuno André Coelho, que jogará em Alvalade, e já treinou hoje no Olival pelos "dragões".
Bettencourt considera que, dentro dos condicionalismos, foi um bom negócio: “São raros os jogadores que saem pela cláusula. São uma forma de protecção dos activos. É um valor considerado alto porque o João Moutinho não tinha propostas desde 2008 e porque não foi ao Mundial 2010. O João ficou muito desvalorizado. Admito que o João vale muito mais, do ponto de vista desportivo, mas se eu tiver uma casa de 200 mil euros, mas precisar mesmo de vender e ninguém me der mais, tenho de aceitar a proposta.”
A transferência de Moutinho para o FC Porto começou a desenhar-se no início de Junho, quando Bettencourt mandatou Pini Zahavi, representante do jogador, para negociar o atleta por dez milhões de euros, diz a Lusa. Segundo fonte ligada ao representante de João Moutinho, o Sporting e Pini Zahavi estabeleceram, por escrito, as condições de uma eventual transferência nos primeiros dias de Junho, tendo ficado escrito que o empresário tinha um mandato para encontrar um novo clube até ao dia 30 de Junho, contra o pagamento de dez milhões de euros.
Em meados de Junho, ainda segundo a mesma fonte, José Eduardo Bettencourt, João Moutinho e Pini Zahavi assinaram novo acordo, em que foram pormenorizadas as condições de uma eventual transferência, desde valores a prazos de pagamento. Nenhum dos documentos assinados pelas partes excluía qualquer clube de um eventual negócio.
Foi com base nesses documentos que o FC Porto apresentou uma proposta, tendo o Sporting inicialmente recusado a abordagem dos dragões. João Moutinho confrontou os dirigentes leoninos com o acordo assinado e terá sido nessa altura que se registou a discussão com o director desportivo Costinha, o que originou que o jogador nunca mais treinasse com a equipa - a informação oficial era a de que fazia trabalho de ginásio.
As duas administrações acabaram por conversar directamente e chegar a um acordo para a transferência oficializada por ambas as parte na noite de domingo.
Em conferência de imprensa, Bettencourt disse que se percebeu que “o João não estava ao nível do compromisso” quando recusou continuar a treinar. “Depois disso o negócio só se fez nas condições impostas pelo Sporting, não pela birra do João”, garantiu.
Costinha, director desportivo para o sector do futebol, reforçou a ideia de que se trata de um bom negócio: “Quando o atleta não quer ficar no Sporting e quer sair por qualquer preço, Benfica, FC Porto ou Uzbequistão, a partir daí temos de fazer uma análise, perceber que é um bom negócio, apesar de ir para um clube rival, e apostar nos que cá ficam, deixando de lado uma pessoa que sempre teve tudo nesta casa, que o formou mas que não quis ficar. Se há uma crítica que tenho a fazer a esta casa é que, além de formar jogadores, tem de formar homens.”
Para Bettencourt, “o futebol português nunca adaptou a sua realidade à realidade económico-financeira do país” e considera que “alguma coisa está mal” quando “se diz que 10 milhões de euros é pouco num mercado como o português”. “Este tipo de negócios entre rivais é normal noutros países. Devia haver mais destas em Portugal. No passado o Sporting já vendeu jogadores ao FC Porto e nunca chegaram perto deste valor”, lembrou, vincando que, “como capitão, os adeptos não perderam nada. Como rendimento desportivo sim”.
O presidente do Sporting comentou ainda uma notícia que dá conta de uma negociação semelhante entre leões e dragões com vista à transferência de Izmailov. “Interessante a abordagem, só fica aqui quem quer, mas no Izmailov é um processo ao contrário: de alguém que quer ser reintegrado. Todos os dias tem trabalhado para mostrar que quer caminhar num sentido inverso ao do Moutinho, que queria sair”, garantiu Bettencourt, anunciado que os adeptos “podem” esperar mais negócios.